O populacho no poder

Escreveu-me um diácono permanente:


Infelizmente aqui em Porto Alegre - Rio Grande do Sul, foi eleito um  advogado que veio do PCR ou seja, do Partido Comunista Revolucionário. Aonde iremos parar? O que posso esperar para nossa cidade? Atenciosamente, Diácono X

Respondi-lhe assim:

Em duas palavras:

Caos & Desordem.

Convém lembrar neste momento um sábio princípio de Doutrina Social da Igreja: a autoridade do governante vem de Deus, não do povo. o poder não vem do povo, que o delegaria à autoridade; o poder vem de Deus.

Assim sendo, o governante que promulga leis contrárias à lei natural está abusando de sua autoridade, como o faria um prefeito que promulgasse uma lei anticonstitucional.

A maneira atual de escolher governantes, ou seja, o processo eleitoral obrigatório, aberto a todos, sem distinção alguma, é a meu ver extremamente perigosa, e até perniciosa. Afinal, além das mazelas mais evidentes (falta de continuidade nos governos, com cada um destruindo o que ded bom tenha feito o governante anterior; necessidade de populismo barato, com obras de véspera de eleição, candidato comendo buchada de bode e outras coisas do gênero), ainda há o fato de que estamos hoje vivendo um período de loucura coletiva na sociedade. Nas cidades, especialmente nos bairros mais ricos - ou, em outros termos, entre os "formadores de opinião" - teorias lunáticas e anti-naturais estão cada vez mais comuns, fazendo com que os governantes sejam cada vez mais obrigados a obedecer a este mandato não escrito.

Ai do governante que tente fazer o que a Lei Natural manda, ai do governante que tente sequer fazer o que a população brasileira considera (ainda) correto e natural! Ele será crucificado pela mídia; "pecados" e "faltas" serão desenterrados e jogados em sua face, sem chance de defesa. Até mesmo os que apóiam a coisa boa que ele tenha feito acabarão por vê-lo como um monstro torturador e tirânico.

Entramos então na parte mais interessante de minhas divagações: o Filósofo - que, como sabemos todos, classificou o homem de um "animal político", e dedicou muito de seu trabalo à questão da pólis - dizia que a tirania é a decorrência necessária e imutável da democracia. Segundo ele, a democracia é apenas um celeiro fértil para a demagogia, para os "picaretas" que agradam ao povo, que falam asneiras engraçadas e acabam levando o povo pelo nariz até que tenham oportunidade de possuí-lo à força.

No Brasil nós já tivemos a oportunidade, pela graça de Deus, de ter um governo muito mais equilibrado, que nos foi arrancado, mais uma vez pelas armas, na triste quartelada que motiva o feriado de quarta-feira próxima. No tempo do Império, havia métodos bastante inteligentes e interessantes para impedir a ação de demagogos e o excesso de poder de políticos. Métodos, em suma, de evitar a tirania.

Estes métodos eram os mesmos que preconizava o Filósofo: um governo que não fosse colocado nas mãos do populacho sedento de novidades e mentiras: um governo oligárquico, e não democrático. O direito a voto existia, mas não como hoje. O voto era restrito àquela classe que é menos propensa a apoiar "revoluções" e delírios, a seguir a última moda em Nova Iorque ou nas Europas: os proprietários rurais. Votavam apenas os (não "as") proprietários rurais.

Os eleitos não tinham "carta branca", não tinham, como têm hoje os políticos em seus primeiros anos de governo, um cheque em branco para fazer o que bem entendessem. Para modificar coisas importantes, era necessário que houvesse não apenas uma maioria, mas que, após uma eleição e renovação das câmaras, uma nova maioria ratificasse a anterior.

Como salvaguarda adicional, havia ainda o Poder Moderador, exercido pelo Imperador. Certamente não seria pela promessa de torneiras que um político haveria de convencer um imperador a corroborar seus desvarios!

Na Inglaterra há (ainda, posto que querem acabar com esta sábia instituição) a Câmara dos Lordes, em que sentam-se os lordes, aqueles que receberam este título. Eles não são eleitos; são, sim, lordes por serem filhos de lordes. A eles corresponde, ainda que de maneira imperfeita, o papel que a restrição do universo de votantes exercia de maneira muito mais adequada no Brasil: impedir as "novidades", impedir as "revoluções em nome do progresso" e outros desvarios.

Pense, meu caro diácono: será que se, no Rio Grande do Sul, o voto houvesse sido feito apenas pelos proprietários de terras, os gaúchos estariam passando pelos problemas por que passam? Será que estes demagogos comunistas estariam onde estão? Dificilmente.

Afinal, até mesmo aqueles que, por "mérito" destes mesmos comunistas, receberam títulos de propriedade de terras alheias, invadidas pelos MSTs da vida, pelo simples fato de terem agora a responsabilidade do cultivo (ainda que não tenham o mesmo amor à terra de alguém que nela nasceu, ou ao menos de alguém que muito trabalhou para obtê-la) e produção, normalmente afastam-se dos delírios demagógicos destes grupelhos revolucionários.

©Prof. Carlos Ramalhete - livre cópia na íntegra com menção do autor

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